Haderson Júnior Martins Floriano foi morto a facadas em setembro de 2019, aos 17 anos

Dois anos após perder Haderson Júnior Martins Floriano, 17 anos, espancado e morto em um dos pontos turísticos de Porto Alegre, a orla do Guaíba, familiares aguardam pelo desfecho do caso. No entanto, a primeira audiência foi agendada no fim de setembro e tem como data 12 de junho de 2023. Como os réus receberam direito de responder pelo crime em liberdade, o caso passou a andar mais devagar na Justiça. A situação gera revolta entre os parentes do adolescente morto.


Com 66 anos, a avó paterna de Haderson, que prefere não ser identificada na reportagem, diz que a sensação que a família vive até agora é de impunidade. Os réus Márcio Teles Mendes Felber e Ygor Rodrigues Dupont chegaram a ser presos pela Polícia Civil e confessaram o crime. No entanto, em setembro do ano passado, por decisão do Judiciário, passaram a responder em liberdade.

— Mataram o meu neto, por motivo fútil, sem nenhuma piedade. Não conseguiu reagir. Um crime desses não pode ser banalizado. A vida de uma pessoa não vale nada. De um adolescente. Infelizmente é uma realidade com a que a gente é obrigada a conviver. Tenho outros netos. Não era só ele. O que vamos esperar da sociedade para a vida dos nossos netos? Dois anos depois e agora que marcam a primeira audiência. É inaceitável essa situação. A gente não entende. Fica chocada com a decisão da Justiça — desabafa a avó.

Haderson morava com a família na zona leste de Porto Alegre, de onde saiu na tarde de domingo, 29 de setembro de 2019, e embarcou em um ônibus, em direção à Orla.

Por volta das 23h, envolveu-se numa briga nas proximidades da Usina do Gasômetro. Foi atacado a chutes, socos e garrafadas – um dos golpes perfurou seu peito. Encaminhado ao Hospital de Pronto Socorro (HPS), morreu no início da madrugada.

— Dia 30 de setembro, fecharam dois anos. Ele estava começando a vida ainda. Veio morar com a gente quando tinha nove anos. Criou-se aqui. Trabalhava no Centro, na entrega de almoço. Infelizmente, nos tiraram o direito de conviver com ele, de compartilhar da vida dele. Isso é muito triste. Muito sofrido — lamenta a avó.

Na audiência, a ser realizada daqui a um ano e oito meses, deverão ser ouvidas as testemunhas de acusação. Depois disso, devem ser ouvidas as de defesa e, por fim, os réus são interrogados.

Somente após esta etapa, a Justiça decide se os réus devem ir a júri pelo crime. Na decisão sobre a audiência, publicada no último dia 29 de setembro, a magistrada Lourdes Helena Pacheco da Silva afirma que assumiu o juizado em 2 de agosto deste ano e que a data era a mais próxima disponível para a pauta de réus soltos.

Por nota, o Ministério Público afirmou que recorreu imediatamente após os dois réus serem colocados em liberdade no ano passado e aguarda o julgamento do recurso. “Por conta da soltura, o processo está sendo tratado como de réus soltos, sem a prioridade que existe em relação aos processos com réus presos. O MP espera que o recurso seja provido e os réus em breve voltem a ser presos”, informou o MP na manifestação.

Além dos dois réus, um adolescente também foi apreendido e admitiu envolvimento no espancamento e na morte. A situação atual do adolescente não foi informada pelo Judiciário – a informação foi de que “execução de medidas socioeducativas tramitam em segredo de Justiça”.

O crime

A apuração concluiu que o crime aconteceu durante uma série de provocações entre dois grupos de jovens, que gritavam os nomes de facções criminosas rivais. Isso acabou gerando uma briga generalizada.

Haderson Floriano teria sido agredido com socos e chutes por Márcio Felber e pelo adolescente que também admitiu envolvimento no crime. Na sequência, Ygor Dupont teria sido o responsável por golpear a vítima no peito com uma garrafa quebrada e outro objeto perfurante, possivelmente um canivete.

Dupont chegou a ficar foragido, mas foi capturado no fim de novembro do mesmo ano, em Viamão. Após ser preso, admitiu o crime e alegou que estava sob efeito de álcool e drogas.

Durante a briga, várias pessoas gravaram vídeos, que auxiliaram na investigação. A apuração não conseguiu concluir se os envolvidos possuíam vínculo com as facções rivais das quais gritavam os nomes.

A soltura dos réus

A juíza Cristiane Busatto Zardo, responsável por conceder liberdade aos réus, afirmou a GZH no ano passado que contribuiu para a decisão o fato de os dois terem colaborado com a apuração e não terem se negado a prestar declarações.

Além disso, a magistrada aponta que os réus são primários, possuem residência fixa, admitiram o crime e não usaram arma de fogo. “Aliás, sequer portavam arma”, afirmou, em texto enviado pelo Tribunal de Justiça.

Conforme a juíza, sem os critérios que sustentem a prisão preventiva não haveria como manter os réus presos. Ela afirmou ainda que “não há notícias, até o momento, de tentativa de constrangimento a testemunhas” e concluiu que este foi um “fato isolado na vida dos réus”.
Contraponto

O que diz a defesa de Márcio Teles Mendes Felber e Ygor Rodrigues Dupont

Responsável pela defesa dos réus, a Defensoria Pública do Estado informou que está fazendo o acompanhamento do processo dos dois, mas que a instituição só irá se manifestar nos autos do processo