Diarista Sandra Josino, de Cacoal, diz que ganha R$ 100 por semana para uma família de 5 pessoas e, por isso, adotou fogão a lenha no início da pandemia. Atualmente, gás consome quase 10% do salário mínimo das famílias.

Porto Velho, RO -
O preço do gás de cozinha já consome quase 10% do salário mínimo das famílias rondonienses, segundo uma pesquisa da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Com o alto valor, a procura por fogão a lenha e a carvão cresceu no estado.

Em algumas cidades de Rondônia, o gás já está sendo comercializado a R$ 135, como é o caso de Cacoal (RO).

A diarista Sandra Josino, moradora de Cacoal, contou à Rede Amazônica que está usando fogão a lenha para preparar as refeições desde o início da pandemia, quando o preço da botija de gás começou a subir.

"A gente não tá trabalhando, o que faz é uma 'diarinha' aqui, outra ali. A dificuldade é muita porque a gente ganha R$ 100 por semana para uma uma família de 5 pessoas. É complicado", conta.

Segundo a diarista, a única solução encontrada foi cozinhar as comidas que usam mais gás no fogão a lenha.

"Quando cozinha para a família e vem os netos, tem que fazer tudo em panelão, e o fogão a gás não dá. Estamos botando os meninos pra ir procurar madeira. Nosso refúgio é o fogão a lenha mesmo. E aqui na região quase todo mundo está enfrentando fogão a lenha porque está muito caro o gás", explicou.


Diarista Sandra Josino conta que voltou a usar fogão a lenha após aumento no preço do gás — Foto: Rede Amazônica/Reprodução


Essa procura por fogão a lenha e carvão foi vista como uma oportunidade para Elson Pereira, que começou a produzir e vender fogareiros por R$ 50. O negócio surgiu para melhorar a renda da família de Elson, além de ajudar quem não tem condição de pagar mais de R$ 100 na botija de gás.


Elson contou ao g1 que aprendeu a fazer os fogareiros na internet, há seis meses, e desde que anunciou a venda nas redes sociais já conseguiu vender mais de 80 itens.


Metalúrgico produz fogareiros para ajudar na renda familiar — Foto: Arquivo Pessoal

Por que a botija está tão cara?

Para entender o motivo do preço do gás de cozinha estar alto, é preciso compreender que ele é produzido a partir do petróleo – tanto é que seu nome é ‘gás liquefeito de petróleo’ ou GLP.

A Petrobras segue a variação de preço de compra e venda do produto do mercado internacional, principalmente do valor do dólar. Assim, quando os preços sobem lá fora, sobem no Brasil também.

Cozinhar em fogareiro é alternativa após gás virar vilão do orçamento das famílias
Outra questão que é preciso conhecer é sobre como é feita a composição do preço de venda da botija.

Para isso, o g1 conversou com o economista Otacílio Moreira de Carva. Ele explicou que o valor do gás é composto por três partes: cerca de 48% de custo que a Petrobras tem para produzir ou importar o produto, 37% da distribuição e revenda, e 15% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o tributo estadual.


Botijas gás, gás cozinha, botijão, reajuste gás — Foto: Rogério Aderbal/G1

Em março de 2021, o Governo zerou os impostos federais sobre diesel e gás de cozinha, o que ajudou a amenizar a alta do valor, entretanto, mesmo sem o tributo federal, o gás continua subindo.

Há expectativa que esse preço baixe?

Segundo Otacílio, existe um debate sobre isentar o tributo do ICMS sobre o preço do gás, o que pode possibilitar que o valor baixe, entretanto, o economista explicou que a principal previsão é a de que nos próximos meses aconteça novos aumentos, por causa da flutuação do dólar, principalmente pelo preço do petróleo no mercado internacional.

Além disso, o economista diz que o causador da alta do petróleo foi a questão da oferta e procura: quanto mais demanda pelo produto, maior o seu valor.

Quais medidas podem ser tomadas para diminuir o preço?

Para Otacílio, o retorno do auxílio gás pode ser uma alternativa para ajudar a população mais carente nesse momento.

Na terça-feira (19), o Senado aprovou o projeto de lei que cria o vale-gás, um programa social com o objetivo de ajudar famílias de baixa renda a comprar os botijões.

Se virar lei, a iniciativa permitirá que as famílias beneficiárias recebam, a cada dois meses, o valor correspondente a pelo menos 50% do preço médio nacional de revenda do botija de 13 kg. O programa, segundo o texto, terá duração de 5 anos, mas ainda precisa ser analisado novamente pela Câmara.

A médio e longo prazo, o economista explica que a melhor medida a ser tomada é utilizar fontes de energia e matéria-prima, que não sejam derivadas do petróleo, para produção de combustível, energia elétrica e gás de cozinha. Isso porque, com a procura por petróleo mais baixa, o valor por ele tende a diminuir