A vida do titular da Economia ficou ainda mais difícil neste ano, quando o Centrão passou a comandar os ministérios da Casa Civil e da Secretaria de Governo

A aproximação de Bolsonaro com o Centrão começou com uma rodada de reuniões no ano passado, quando a ideia era formar uma base de cerca de 250 parlamentares para blindar o chefe do Executivo -

O Centrão está cada vez mais dedicado a tirar Paulo Guedes do Ministério da Economia, como escancarou o próprio titular da pasta, ontem, na entrevista coletiva ao lado do presidente Jair Bolsonaro. O bloco de partidos que dá sustentação ao governo representa, no Congresso, os interesses dos bancos e do setor produtivo. A raiz dos problemas com Guedes está no fato de o ministro ainda não ter entregado os resultados que prometeu, sobretudo as reformas.

A vida do titular da Economia ficou ainda mais difícil neste ano, quando o Centrão passou a comandar os ministérios da Casa Civil e da Secretaria de Governo, com Ciro Nogueira (PP) e Flávia Arruda (PL), respectivamente. Com a chegada dos dois parlamentares ao Planalto, o Centrão assumiu as articulações com o Congresso, o que inclui o controle da destinação das verbas bilionárias de emendas parlamentares.

A partir daí, os embates entre a ala política e a equipe econômica do governo subiram de temperatura.

A aproximação de Bolsonaro com o Centrão começou com uma rodada de reuniões no ano passado, quando a ideia era formar uma base de cerca de 250 parlamentares para blindar o chefe do Executivo contra o impeachment e aprovar projetos no Congresso. De lá para cá, uma sucessão de crises e o avanço de investigações aumentaram a dependência do Planalto em relação ao grupo político, que adere aos mais diferentes governos.

Escória

A relação entre Bolsonaro e Centrão é bem diferente do que se via à época da campanha presidencial de 2018, quando o então candidato do PSL prometia acabar com a “velha política” e o “toma lá, dá cá”. Para conquistar os eleitores, ele chegou a dizer que o bloco era a “escória da política brasileira” e “o que há de pior no Brasil”.

As conversas de Bolsonaro com representantes do grupo começaram em abril do ano passado, em meio a um aumento expressivo do número de pedidos de impeachment protocolados na Câmara por causa do comportamento do presidente na pandemia da covid-19.

A influência do Centrão no governo se fortaleceu em maio de 2020, com o início da distribuição de cargos para indicados dos partidos em órgãos importantes, como o comando do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) e a diretoria do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). À época, o Supremo Tribunal Federal (STF) tinha acabado de abrir inquérito para investigar uma suposta interferência política de Bolsonaro na Polícia Federal.

Os espaços do Centrão no governo se ampliaram ainda mais em junho de 2020, após a prisão do ex-assessor Fabrício Queiroz, acusado de envolvimento com o esquema de rachadinha no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), quando o político era deputado estadual no Rio de Janeiro.